
O barato que pode sair caro: o risco das “vantagens financeiras” no mercado de planos de saúde
- Ewerton Hirayama

- há 28 minutos
- 3 min de leitura
A história real que me fez escrever este texto
Recentemente, vivi uma situação que precisa ser compartilhada — porque pode estar acontecendo dentro de muitas empresas, às vezes sem que ninguém perceba.
Depois de um estudo completo de rede, várias simulações, reuniões e um feedback muito positivo pelo trabalho consultivo realizado, entrei em contato novamente com a empresa para avançarmos no fechamento.
A resposta foi direta:
“Fechamos com outro corretor devido às vantagens financeiras de longo prazo.”
Na mesma hora, acendeu um alerta.
Quando aprofundei a conversa, ficou evidente o que havia acontecido:
o concorrente ofereceu como “vantagem” o valor que a empresa paga ao plano — devolvido por fora, como se fosse cashback.
E aqui começa o problema.
Cashback: uma palavra popular, mas completamente indevida nesse contexto
“Cashback” virou moda.
Estamos acostumados com bancos digitais, apps, cartões e compras dando dinheiro de volta.
Mas no mercado de planos de saúde, a regra é outra.
Se fosse permitido repassar dinheiro ao cliente, as próprias operadoras fariam isso oficialmente, aplicando descontos direto no boleto.
Mas elas não fazem — e não fazem porque é proibido pelos órgãos reguladores e cria risco jurídico e contábil tanto para quem oferece quanto para quem aceita.
Quando o dinheiro “volta” não pela operadora, mas por um intermediário, alguns riscos surgem imediatamente:
desvio de comissão
concussão ou vantagem indevida
conflito de interesses
risco fiscal para a empresa
caracterização de fraude corporativa
exposição em auditorias internas e externas
E existe algo ainda mais perigoso — algo que pouca gente comenta.
O risco invisível: quando o dinheiro não vai para a empresa, mas para pessoas dentro dela
Sim, isso acontece.
Existe o caso em que a “vantagem” não vai para a empresa contratante, e sim para alguém dentro dela, como um interlocutor que está conduzindo a negociação.
Isso, além de antiético, pode se enquadrar em:
vantagem indevida
corrupção privada
violação de compliance
quebra de confiança
fraude corporativa
É exatamente esse tipo de situação que vemos diariamente nos noticiários quando falam sobre sonegação, desvios, golpes e irregularidades — e muitas vezes começa com algo “pequeno”, aparentemente inofensivo, como “um cashbackzinho por fora”.
Vamos ser práticos: por que isso coloca a empresa em risco?
Risco contábil
Como justificar, em auditoria, a entrada de dinheiro de um fornecedor indireto?
A Bradesco não devolveu nada, Amil não devolveu nada…
Então por que um intermediário devolveu?
Risco trabalhista
Se houver troca de corretora ou disputa contratual, essa prática vira argumento jurídico contra a empresa.
Risco de compliance
Empresas com governança, investidores ou financiamentos externos não aceitam esse tipo de operação.
Risco reputacional
Se isso vaza — e sempre vaza — o impacto é devastador para a imagem do RH e da diretoria.
Risco fiscal
Entradas sem origem legítima podem gerar apontamentos e multas.
Nada disso vale os “centavos de alívio” no curto prazo.
A reflexão que realmente importa
Talvez a empresa seja pequena.
Talvez quem tomou a decisão tenha pensado apenas em economia.
Talvez tenha sido o próprio dono, sob pressão de orçamento.
Mas é aqui que está a pergunta-chave:
**Se queremos um mundo mais ético, justo e profissional…
por que aceitaríamos práticas que caminham para o sentido oposto?**
Não é sobre valores financeiros.
É sobre cultura.
Sobre caráter organizacional.
Sobre aquilo que escolhemos permitir — ou não — dentro da nossa empresa.
As grandes fraudes começam assim:
com alguém aceitando o que parecia um “bom negócio”.
Empresas não constroem cultura.
Pessoas constroem.
E tudo começa quando alguém tem coragem de dizer:
“Aqui não. Aqui escolhemos fazer o certo.”
Uma última mensagem ao RH e aos empresários
Se você leu até aqui, provavelmente está do lado certo dessa discussão.
Leve este texto para sua diretoria, seus gestores e sua equipe.
Ressalte a importância de trabalhar com consultores sérios, transparentes e que respeitam as regras do mercado.
Porque o barato pode sair muito caro — e rápido.
E ética não se negocia.




Comentários